Iremos falar sobre os principais aspectos de uma doença que tem deixado muitos produtores, e piscicultores de tilápia na Região Centro Sul brasileiro preocupados, principalmente no inverno, a “Franciselose”. Essa doença é causada por uma bactéria que se chama noatunensis subsp. orientalis, e os mais afetados são peixes jovens, como alevinos e juvenis.
A doença foi descoberta há pouco tempo no Brasil, e esse fato se encontra bastante comentando no país, ocorrendo na quase totalidade dos polos produtores de tilápia.Todos os produtores e engenheiros devem se preparar para combater esse desafio.
O principal grupo de risco são alevinos e juvenis, embora casos pontuais de infecção em animais adultos tenham sido observados nos últimos anos. Atualmente a enfermidade já está estabelecida principalmente nas bacias do rio São Francisco, regiões estas em que a temperatura da água alcança valores abaixo de 24º C durante o período inverno/primavera.
Entre as alterações patológicas características desta doença, temos a ocorrência de nódulos esbranquiçados em órgãos como baço, rins, fígado e até mesmo brânquias, além de aumento de tamanho do baço (esplenomegalia) e rins (nefromegalia). Estes sinais constituem-se nos principais achados de necropsia, ao passo que a doença seja também denominada de granulomatose visceral bacteriana. Para confirmação do diagnóstico, podem ser realizadas análises histopatológia dos órgãos afetados, bem como técnicas para isolamento e identificação bacteriana, ou ainda avaliações moleculares de fragmentos de órgãos dos animais suspeitos, sendo este último, a estratégia com maior exatidão para detecção.
Embora os animais jovens sejam os que apresentem maior susceptibilidade durante a infecção por Fracisella, as matrizes e reprodutores podem ser portadores e potenciais disseminadores da enfermidade para a prole.
Portanto, o principal foco para conter a dispersão da doença, é monitorar a saúde do plantel de matrizes e reprodutores, ao passo que se torna necessário o tratamento com antimicrobianos durante períodos que antecedem maior risco para ocorrência da doença, sempre pautado no diagnóstico prévio da enfermidade. Esta estratégia pode não ser bem-vinda para alguns produtores, afinal, tratam-se animais portadores que não estão clinicamente enfermos, sem registro de mortalidade pela doença. Quando houver a disponibilidade de vacinas para promover a imunização ativa do plantel de reprodutores, certamente esta prática deverá ser abandonada.
O monitoramento da enfermidade para o principal grupo de risco (alevinos e juvenis) deve ser realizado durante intervalo de pelo menos 10 dias em regiões de alto desafio durante o período de risco (temperatura abaixo de 24ºC). Esta prática é extremamente necessária para possibilitar o diagnóstico precoce da doença, otimizando a resposta ao tratamento, uma vez que até o momento não disponibilizamos de soluções em vacinas para promover a imunização ativa do plantel de animais jovens.
Contudo, o principal fator de risco deverá ser levado em consideração; especialmente se a ocorrência da doença apresentar baixa durante o final da primavera, o que talvez inviabilize a intervenção com uso de antimicrobianos em animais jovens, já que o aumento natural da temperatura da água, inibe a evolução da doença. Caso contrário, a melhor estratégia terapêutica a ser adotada é o uso “Off label” (fora das indicações em bula) de altas dosagens de florfenicol (20 mg do ingrediente ativo/kg de peso vivo) durante 10 a 30 dias consecutivos, até a remissão completa da doença.